segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Os últimos dias de Maduro.



Amanhã poderá ser o primeiro dos últimos dias de Nicolás Maduro à frente do destino de milhões de venezuelanos. A posse de Jair Bolsonaro como trigésimo oitavo presidente do Brasil será a peça que faltava encaixar, para levar a cabo tal empresa, na qual terá participação activa o próprio presidente venezuelano, pela seguinte ordem de razões:
Primeiro o Brasil. Bolsonaro chega com uma agenda radical, contestada por largas franjas da sociedade, mas apoiada pelos sectores mais conservadores dentro do Estado, a polícia, as forças armadas e fora deste pelos três B: a “Bala”, o “Boi” e a “Bíblia”. Os sectores economicamente mais competitivos, do petróleo à finança, pelas garantias dadas pelo futuro ministro da economia, o liberal Paulo Guedes, também olham com agrado para o governo de Bolsonaro. Exceptuando as pastas da justiça e da economia, sabe-se que reina o improviso e um certo caos na administração Bolsonaro, havendo já uma série de futuros ministros com a justiça “à perna”. Num ambiente político dito normal, com equidistância e equilíbrio de poderes será difícil a aplicação da agenda Bolsonaro. Que factor poderá ultrapassar tais dificuldades? Uma guerra. Contra quem? A Venezuela.
Não será difícil rebuscar argumentos que possam justificar uma intervenção militar. Desde a estabilidade regional, à questão dos refugiados, às simpatias entre o regime venezuelano e o PT de Lula, e por aí fora. Com o Brasil num estado de guerra, será legítimo suprimir algumas liberdades, direitos e garantias e iniciar um novo tempo. Apesar da miséria a que Maduro condenou os seus concidadãos a Venezuela é um país rico, aliciante para as empresas de ponta brasileiras e não só. Por outro lado uma intervenção na Venezuela reforçaria o papel do Brasil como a potência regional, onde um Bolsonaro democraticamente eleito enfrentará um ditador que governa contra o próprio povo.
Em segundo lugar os Estados Unidos. É pública a oposição entre a Venezuela desde o Chavismo e todas as administrações norte americanas, sendo que Maduro e Trump protagonizam um tempo particularmente intenso desse processo. Trump parece hesitar entre uma postura isolacionista, ou adjudicar por outsourcing a política externa norte americana. Assim foi no Médio Oriente com a Arábia Saudita, a Turquia e indirectamente com a Rússia. Com a chegada de Bolsonaro, e as afinidades narrativas, Trump encontrou finalmente o parceiro que lhe faltava na região. Uma intervenção militar brasileira, será apoiada e suportada pelos EUA desde o bloqueio do Conselho de Segurança da ONU, ao apoio militar. A economia norte americana ganhará com o conflito, pela via da indústria de armamento e segurança e depois através do lóbi do petróleo. Se a economia estiver de boa saúde até 2020 a reeleição de Trump estará quase certa.
Em terceiro lugar a Rússia. Putin é um “aliado” do regime venezuelano, que não hesitará em usar para impor a sua visão disruptiva do mundo, mesmo que isso signifique o fim de Maduro. A geografia é determinante e a América do Sul não é o Médio Oriente, não é um interesse de primeira ordem da Rússia, nunca foi. No entanto será útil para uma confrontação de esferas de influência, num remake de mau gosto da Guerra Fria. Dará jeito como montra da tecnologia militar russa, para aliciar uns e intimidar outros. Além disso ainda há o petróleo. Um conflito na Venezuela poderia ter algumas implicações na subida do preço do crude, impulsionando a anémica economia russa.
Por último a Venezuela. Maduro passará pelo idiota de serviço, que se enredou numa absurda ditadura, sem saída, que não implique a sua própria remoção. Neste contexto Maduro pôs-se a jeito no início de Dezembro ao receber dois bombardeiros russos TU-160 com capacidade nuclear, para manobras militares conjuntas. O gesto além de crispar o secretário de estado norte-americano Mike Pompeo, traz mais instabilidade à região, um dos propósitos de Putin.
Maduro encurralou-se num beco sem saída e um factor externo, como um conflito militar, apoiado pela Rússia com um vizinho, poderá ser a sua redenção. Demasiado louco, demasiado optimista.



Os últimos dias de Maduro.

Amanhã poderá ser o primeiro dos últimos dias de Nicolás Maduro à frente do destino de milhões de venezuelanos. A posse de Jair Bolson...