Amanhã poderá ser o primeiro dos
últimos dias de Nicolás Maduro à frente do destino de milhões de venezuelanos. A
posse de Jair Bolsonaro como trigésimo oitavo presidente do Brasil será a peça
que faltava encaixar, para levar a cabo tal empresa, na qual terá participação
activa o próprio presidente venezuelano, pela seguinte ordem de razões:
Primeiro o Brasil. Bolsonaro chega
com uma agenda radical, contestada por largas franjas da sociedade, mas apoiada
pelos sectores mais conservadores dentro do Estado, a polícia, as forças
armadas e fora deste pelos três B: a “Bala”, o “Boi” e a “Bíblia”. Os sectores
economicamente mais competitivos, do petróleo à finança, pelas garantias dadas
pelo futuro ministro da economia, o liberal Paulo Guedes, também olham com
agrado para o governo de Bolsonaro. Exceptuando as pastas da justiça e da
economia, sabe-se que reina o improviso e um certo caos na administração
Bolsonaro, havendo já uma série de futuros ministros com a justiça “à perna”. Num
ambiente político dito normal, com equidistância e equilíbrio de poderes será difícil
a aplicação da agenda Bolsonaro. Que factor poderá ultrapassar tais
dificuldades? Uma guerra. Contra quem? A Venezuela.
Não será difícil rebuscar argumentos
que possam justificar uma intervenção militar. Desde a estabilidade regional, à
questão dos refugiados, às simpatias entre o regime venezuelano e o PT de Lula,
e por aí fora. Com o Brasil num estado de guerra, será legítimo suprimir
algumas liberdades, direitos e garantias e iniciar um novo tempo. Apesar da miséria a que Maduro condenou os seus
concidadãos a Venezuela é um país rico, aliciante para as empresas de ponta
brasileiras e não só. Por outro lado uma intervenção na Venezuela reforçaria o
papel do Brasil como a potência regional, onde um Bolsonaro democraticamente
eleito enfrentará um ditador que governa contra o próprio povo.
Em segundo lugar os Estados Unidos. É
pública a oposição entre a Venezuela desde o Chavismo e todas as administrações
norte americanas, sendo que Maduro e Trump protagonizam um tempo particularmente
intenso desse processo. Trump parece hesitar entre uma postura isolacionista, ou
adjudicar por outsourcing a política externa norte americana. Assim foi no
Médio Oriente com a Arábia Saudita, a Turquia e indirectamente com a Rússia.
Com a chegada de Bolsonaro, e as afinidades narrativas, Trump encontrou
finalmente o parceiro que lhe faltava na região. Uma intervenção militar
brasileira, será apoiada e suportada pelos EUA desde o bloqueio do Conselho de
Segurança da ONU, ao apoio militar. A economia norte americana ganhará com o
conflito, pela via da indústria de armamento e segurança e depois através do lóbi
do petróleo. Se a economia estiver de boa saúde até 2020 a reeleição de Trump
estará quase certa.
Em terceiro lugar a Rússia. Putin é
um “aliado” do regime venezuelano, que não hesitará em usar para impor a sua
visão disruptiva do mundo, mesmo que isso signifique o fim de Maduro. A
geografia é determinante e a América do Sul não é o Médio Oriente, não é um
interesse de primeira ordem da Rússia, nunca foi. No entanto será útil para uma
confrontação de esferas de influência, num remake
de mau gosto da Guerra Fria. Dará jeito como montra da tecnologia militar
russa, para aliciar uns e intimidar outros. Além disso ainda há o petróleo. Um
conflito na Venezuela poderia ter algumas implicações na subida do preço do crude,
impulsionando a anémica economia russa.
Por último a Venezuela. Maduro passará
pelo idiota de serviço, que se enredou numa absurda ditadura, sem saída, que
não implique a sua própria remoção. Neste contexto Maduro pôs-se a jeito no início
de Dezembro ao receber dois bombardeiros russos TU-160 com capacidade nuclear,
para manobras militares conjuntas. O gesto além de crispar o secretário de
estado norte-americano Mike Pompeo, traz mais instabilidade à região, um dos
propósitos de Putin.
Maduro encurralou-se num beco sem saída
e um factor externo, como um conflito militar, apoiado pela Rússia com um
vizinho, poderá ser a sua redenção. Demasiado louco, demasiado optimista.